Os liberais precisam ser mais conservadores se quiserem lutar contra o progressismo
Publicado em 19/04/2025 · Categoria: Política
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Estou cada vez mais convencido de que o problema central do Brasil, hoje, é — mais do que qualquer outra coisa — um problema cultural. A falência de um Estado de Direito é a consequência da morte do modelo cultural que o fundamenta. Como disse Niall Furgson em Civilização: Ocidente x Oriente: “Hoje […] a maior ameaça à civilização ocidental vem não de outras civilizações, e sim de nossa própria pusilanimidade — e da ignorância histórica que a alimenta”.
O que a nossa mente cientificista e ideologizada não entende mais é que a democracia, assim como a liberdade, precisa de um solo seguro para se fiar. Não é a mera formalidade de uma escrita constitucional, o juridiquês pomposo nem a pureza política dos pais fundadores dos Estados Unidos que fizeram daquele país uma democracia real, onde os direitos individuais são respeitados num nível profundo.
Foram, antes, as convicções culturais de seu povo que, sustentados num senso comum real e participativo, numa certeza amplamente difundida e aclimatizada na sociedade, defendiam, num nível elementar, aquelas certezas expressas no documento constitucional. Ora, não foi a Constituição norte-americana que fez aparecer a democracia republicana liberal dos EUA, mas sim as convicções liberais da cultura popular norte-americana. Se o povo norte-americano fosse centralizador e amplamente contrário às teses da Constituição liberal, então, em menos de 50 anos depois da carta fundadora, os EUA teriam se tornado mais uma republiqueta coletivista como tantas outras nas Américas. Não tenho dúvidas.
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Ou seja, belas palavras em um texto, sem que os indivíduos, os agentes políticos e jurídicos de fato acreditem nos valores que elas veiculam, é como pregar a beleza da castidade em um prostíbulo. É tão bonito quanto ineficiente. Se o homem comum não tiver a percepção de que a defesa da liberdade de expressão e da dignidade humana, por exemplo, não é mera preocupação gourmet de eruditos encastelados, mas que, antes, a falta dessa liberdade e dignidade é um problema fundamental que o machuca de forma literal. Isto é, se o João e a Maria não tiverem imbuídos dessa consciência ante suas tradições, então dificilmente teremos um país com uma democracia liberal real para além das palavras bonitas em cadernos oficiais.
A cultura importa
Há duas semanas, estive no Fórum da Liberdade, em Porto Alegre, e, seja em conversas breves nos corredores, ou em debates longos em cafés da região com alguns palestrantes, notei que as soluções liberais para o país, em pelo menos uns 90% dos casos, passam por meras reformas políticas e jurídicas. Quase nenhuma delas tocam num espectro cultural mais profundo, de uma tomada de consciência social de nossas tradições liberais.
“A cultura é o meio pelo qual refletimos, reforçamos, criticamos e defendemos as bases de nossa civilização”
Pedro Henrique Alves
Acredito piamente que o trabalho principal dos defensores da liberdade está na exposição inteligente e no convencimento estratégico das populações, sobre os valores do Ocidente — isto é, daqueles princípios que gestaram a própria democracia moderna. A cultura é o meio pelo qual refletimos, reforçamos, criticamos e defendemos as bases de nossa civilização. Se não damos atenção a ela, então a deixamos vulnerável aos ataques de ideologias antiocidentais. A cultura é o principal meio pelo qual defendemos efetivamente a liberdade, pois a liberdade é próprio fruto da cultura ocidental.
Por isso, é preciso retomar uma postura ativa na defesa dessa cultura, reassumir uma ação coordenada entre liberais e conservadores na defesa ajustada e firme das heranças morais, políticas, históricas de nossa civilização. Como disse Jonah Goldberg em seu excelente livro O Suicídio do Ocidente, a única maneira de salvar o Ocidente é voltar a defendê-lo de forma frontal, corajosa e inteligente. Nunca isso foi tão evidente.
Liberais, sejam mais conservadores
Tal defesa cultural, obviamente, passa pela defesa da moralidade tradicional, como a da família tradicional, do conceito firme de verdade intelectiva, do direito parental à educação moral e religiosa da prole e do afastamento do Estado das escolhas individuais e familiares. O que muitos liberais não entenderam é que a liberdade econômica e política só existe porque a herança ética do Ocidente preparou o campo para ela brotar e defender o fruto enquanto se mata o solo é uma equação idiota e sem sentido algum. Hoje entendo a forte frase de Roger Scruton em Conservadorismo: Um Convite à Tradição: “O liberalismo só faz sentido no contexto social que o conservadorismo defende”.
Por isso, afirmo com tranquilidade que cada dia mais os liberais deveriam ser, em certa medida, mais conservadores — principalmente no Brasil. Pois, quando o assunto é debater e defender publicamente as tradições morais, políticas e filosóficas do Ocidente, os conservadores sempre estiveram na dianteira, e somente há poucas décadas alguns assumidamente liberais tomaram para si algumas trincheiras culturais nessa guerra.
Não falo, é claro, daquele conservadorismo tradicionalista, que quer verter a sociedade numa releitura medieval tosca que paira entre o monastério com redes sociais e um convento com fast food. Refiro-me antes àquele conservadorismo maduro que conseguiu equalizar a modernidade com os valores da tradição ocidental. Isto é: a defesa de uma ordem social baseada em princípios morais comuns, na relação social orgânica dos indivíduos na sociedade — aquilo que Burke chamava de “pequenos pelotões” —, e a liberdade econômica e autonomia do indivíduo ante o coletivo do Estado.
“A liberdade é o chão que pisamos e o ar que respiramos, e não uma abstração”
Pedro Henrique Alves
Os liberais, em grande parte, ainda têm uma visão excessivamente tecnocentrista de política. Acham que mudar as configurações da máquina ou rearranjar as peças no tabuleiro são os meios adequados de reação quando a própria máquina já está pré-estabelecida no modo “empoderamento de si próprio”, quando o jogo já está viciado em dar sempre a vitória para aqueles que governam sob a ideologia oficial.
A única forma de restituir liberdade ao indivíduo ante o Estado e devolver ao Ocidente a sua identidade — em especial no Brasil —, repito, é vaporizar inteligentemente a consciência da nossa herança político-moral nas pessoas, arranjar meios pedagógicos e midiáticos de transferir ao homem comum os valores éticos do Ocidente que lhes foram escondidos ou tomados. É preciso fazê-lo entender que de sua cachaça à prosa com a mulher no fim do dia, tudo tem a ver com a liberdade e com a autonomia que o Estado e os juízes do Supremo Tribunal Federal estão tentando roubar dele.
A liberdade é o pão. A liberdade é o chão que pisamos e o ar que respiramos, e não uma abstração. É a única maneira de defender efetivamente essa liberdade é defender as raízes, os fundamentos. Nessa luta, conservadores e liberais são complementares. Se quisermos continuar com liberdade e ordem moral ocidental, é bom que ambos os lados deixem o nojinho ideológico de lado.
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