Crime que ameaça várias economias do mundo já era prática comum desde o Império Romano
Publicado em 20/04/2025 · Categoria: Negócios

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A prática de sonegar impostos é tão antiga quanto a cobrança deles. No entanto, um estudo recente mostrou que, durante o Império Romano, a evasão fiscal era levado muito a sério, com penas que iam desde pesadas multas até o exílio permanente — e, nos casos mais extremos, a execução pública. A revelação veio após a tradução e o exame de um documento que narra um desses acontecimentos.
O relato do crime foi encontrado em um papiro no Deserto da Judeia. Após examinar o artefato, os estudiosos constataram que os infratores orquestraram um esquema envolvendo falsificação de documentos e liberação ilegal de escravizados — prática que tinha como objetivo principal driblar a cobrança de impostos nas províncias romanas da Judeia e da Arábia.
Os responsáveis pela fraude já eram conhecidos das autoridades. Um deles, chamado Gadálias, possuía conexões com a elite administrativa e acumulava condenações por falsificação e extorsão. Também era conhecido por cometer furtos e ignorar convocações judiciais.
O outro envolvido era Saulo, apontado como o cérebro por trás da operação e descrito como “amigo e colaborador” de Gadálias. Com base nos nomes e na localização dos fatos, os pesquisadores acreditam que ambos eram judeus.
Possível envolvimento com levante contra o Império Romano
O crime ocorreu em uma fase conturbada da história. Por volta de 130 d.C., durante o governo do imperador Adriano, o líder rebelde Simão bar Kochba comandou uma insurreição contra os romanos que culminou em uma guerra. Após a repressão da revolta, a população judaica foi forçada a se dispersar da região da Judeia.
“É possível que sonegadores como Gadálias e Saulo, que demonstravam desrespeito à ordem romana, tenham participado dos preparativos [da revolta]”, afirmou a historiadora Anna Dolganov, responsável por decifrar o manuscrito, ao jornal norte-americano New York Times.
Segundo Dolganov, o papiro pode ter sido descoberto na década de 1950 por beduínos que negociavam antiguidades. Ela acredita que o material tenha sido escondido em Nahal Hever, um cânion situado a oeste do Mar Morto, conhecido por ter servido de refúgio a seguidores de Bar Kochba em fuga.
Um esquema engenhoso de sonegação
A investigação aponta que o crime foi denunciado às autoridades por um delator. Curiosamente, o próprio Saulo pode ter sido o informante, jogando a culpa em seu cúmplice Queréias para tentar escapar da punição.
O plano parecia funcionar da seguinte forma: Saulo, da Judeia, vendia diversos escravizados para Queréias, que vivia na Arábia, sem providenciar a documentação oficial. Ao serem negociados entre províncias, os escravizados deixavam de figurar nos registros de Saulo na Judeia. Porém, como permaneciam sob sua posse, Queréias podia simplesmente não declará-los às autoridades da Arábia.
“Desse modo, oficialmente os escravos sumiam da Judeia, mas não apareciam na Arábia — o que os tornava invisíveis para os administradores romanos. Isso permitia evitar totalmente a tributação sobre esses indivíduos”, explicou a historiadora.
Os romanos, por sua vez, tinham um sistema sofisticado de controle fiscal, especialmente no comércio de pessoas escravizadas. As taxas envolviam 4% nas vendas e 5% nas alforrias. “Se notassem ausência de documentos ou sinais de fraude, os administradores iniciavam investigações”, completou Dolganov.
Um julgamento turbulento
Para sustentar a fraude, Gadálias — filho de um tabelião — teria falsificado contratos e outros documentos. Ao descobrirem a trama, os acusados tentaram proteger-se subornando membros do conselho municipal.
Durante o julgamento, Saulo tentou transferir a responsabilidade para Queréias, enquanto Gadálias culpou seu pai pelos documentos adulterados.
Os motivos exatos da dupla ainda são incertos. “Ainda não se sabe por que eles arriscaram tanto para libertar escravizados sem documentação adequada”, disse Dolganov.
Os pesquisadores levantam três possíveis explicações:
- A simulação de vendas e liberação de escravos poderia ter como finalidade cumprir tradições judaicas, que previam a libertação de pessoas escravizadas em determinadas situações.
- Os dois poderiam estar lucrando com um ciclo de captura, escravização e libertação dentro do Império.
- É possível que Gadálias e Saulo atuassem como traficantes de pessoas.
O papiro não registra a sentença final do julgamento. Ainda assim, os estudiosos supõem que Gadálias, por sua posição social, pode ter recebido uma forma de execução mais “branda”, como a decapitação. Já Saulo, por ser o idealizador do esquema, talvez tenha enfrentado um destino bem mais cruel.
