Especialista explica a crescente hostilidade aos cristãos no Brasil
Publicado em 12/04/2025 · Categoria: Política

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Enquanto Afeganistão, Coreia do Norte, Cuba, China e outros países impõem duras penas a cristãos pelo mero fato de professarem sua fé, o Brasil dispõe de liberdade religiosa constitucionalmente garantida.
A expressão da fé cristã, entretanto, já não é mais tão socialmente aceita em solo brasileiro. Tem crescido na internet — e em alguns círculos sociais, como as universidades — a normalização de expressões de ódio a evangélicos e católicos.

Neste ano, um dos casos de maior repercussão foi o do frei Gilson, que recebeu uma série de ataques virtuais por razões políticas. Apesar de nunca ter declarado apoio a nenhum dos candidatos a presidente em 2018 e 2022, o líder religioso foi “acusado” de ter ligações com o ex-presidente Jair Bolsonaro e de ser patrocinado pela produtora Brasil Paralelo.
Em 2023, foi a vez de Claudia Leitte. A cantora, que professa ser evangélica, foi denunciada ao Ministério Público por mudar a letra de uma de suas músicas: substituiu uma menção a Yemanjá, entidade venerada na umbanda e no candomblé, por Yeshua, versão hebraica do nome de Jesus.
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Além dos casos mais famosos, basta uma rápida pesquisa na rede social X para ver que comentários como “odeio crente” e variantes são não apenas comuns, como também requisito para aprovação social em muitos nichos. O Instituto Brasileiro de Direito Religioso (IBDR) se refere a esse fenômeno como “uma escalada preocupante da repressão à liberdade religiosa”.
A Oeste, o vice-presidente do IBDR, Jean Regina, falou sobre o crescimento da hostilidade a expressões religiosas cristãs no Brasil. Confira os principais trechos da entrevista.
Qual modelo de governo é mais propício a respeitar a liberdade religiosa?
A partir do momento em que a democracia está fortalecida, com instituições fortes, com sufrágio livre e com mecanismos de controle e contenção de autoritarismo, temos de enxergar, necessariamente, uma correspondência de liberdade religiosa. Quanto mais um governo avança em graus autoritários, menos liberdade religiosa vai haver.
Quais tipos de perseguição existem?
O Brasil é um país historicamente formado com uma base cristã católica. É indiscutível. Porém, vemos uma crescente perseguição crescente. Nós, do IBDR, temos monitorado casos que vão desde violações diretas a manifestações de fé, do ponto de vista da liturgia, ritual, cultos, até eventuais vandalizações de templos. Há 50 anos, no Brasil, quando começa a revolução cultural de relativização da moralidade como um todo, quem era o objeto de ódio? Era a Igreja Católica, porque era a reserva moral religiosa do país, era a religião majoritária. Ao mesmo tempo, cresceu, nos subúrbios e no silêncio, a fé evangélica de matriz pentecostal. Depois, com os movimentos avivalistas da década de 1960, 1970 e 1980, o que se chama de neopentecostalismo, houve uma explosão numérica de evangélicos no Brasil. E mais, os evangélicos começaram a participar do processo político. Quando começou a participar do processo político, o evangélico começou a ser o inimigo. Então, a partir daí, conseguimos enxergar a crescente hostilidade em todas as frentes: na cultura, na política e nas redes sociais.
O “discurso de ódio” ajudou a fomentar esse ambiente hostil contra os cristãos?
Isso não é um movimento brasileiro, é coisa sistemática no Ocidente. Nos últimos 15 anos, o pêndulo do poder, como um todo, estava para a esquerda. É exatamente nesse ambiente em que se tem Barack Obama, nos Estados Unidos; os social-democratas, com Angela Merkel, na Alemanha; e a França, também à esquerda, com vários atores importantes. Então, vem o efeito Donald Trump, em 2016, e Jair Bolsonaro, no Brasil, em 2018. Depois, volta o pêndulo com Joe Biden e, agora, Trump vem de novo muito forte. Ou seja, essas questões começaram a ser fortemente debatidas no mundo.
Em quais países as pautas contrárias à religião passaram a prosperar?
Esse ativismo sistêmico, tanto nos organismos internacionais quanto nas Cortes Judiciais afora, resultou no reconhecimento da união homoafetiva pela Suprema Corte Americana, por exemplo. Esse desencadeamento legal, de decisões de tribunais interferindo na legislação dos países, gerou uma pressão muito grande. Afinal, essas decisões judiciais criam um consenso na sociedade, e o grupo religioso passa a ser taxado como fundamentalista. Do ponto de vista do Direito Religioso, se você pensa de uma forma, vou defender até a morte seu direito de pensar desse jeito — mas não posso negar 2 mil anos de teologia, de história, de consenso, de formação, de concílios, de teólogos. O espírito dessa época é relativista, já o espírito da Igreja é de continuidade e de presença permanente. Vai haver choque de visões, é inevitável.
Quais as semelhanças entre o Brasil e os países da Europa?
O Brasil não tem religião oficial, a França também não. Mas no Brasil não tem Estado dizendo que uma muçulmana não pode usar burca na rua. Na França, há proibição. No Brasil, não tem lei dizendo que não posso usar uma camiseta escrito “só Jesus salva” e ir para a escola. Na França tem. Então, a França regula a manifestação plena da liberdade religiosa. Na fé cristã, um crente não quer ir para o céu sozinho — quer que as pessoas que o conhecem venham com ele. Para isso, a Bíblia diz: “Cremos, por isso falamos”. Esse é o ponto. Na laicidade, temos diferenças, e a não interferência do Estado é condição mínima de laicidade. Na França, não tem laicidade. Há laicismo. Na Inglaterra, onde há um Estado que, para além de uma religião oficial, o rei é o chefe da Igreja, um veterano bombeiro e uma senhora foram presos por estar na frente de uma clínica de aborto fazendo uma oração silenciosa, sem falar nada. Isso também mostra o termômetro da hostilidade.
E o que diferencia o Brasil dos demais países?
No Brasil, o ponto é participação política, força política, é força de voto. É o swing, não state, mas people, que pode fazer a definição de uma decisão de uma forma ou de outra. Diante disso, usa-se o aparelho do Estado para intimidar, aprisionar, porque sabe da força e do poder que esse grupo religioso tem. No fim do ano passado, aconteceu uma grande disputa sobre a realização de cultos evangélicos em escolas públicas em Pernambuco, a situação dos intervalos bíblicos. No Rio de Janeiro, uma promotoria no núcleo de Itaperuna retirou a Bíblia por causa dessa noção de laicismo. Para eles, a neutralidade religiosa significa um ambiente limpinho, higienizado da religião. Não é freedom of religion [liberdade de religião], é freedom from religion [liberdade da religião]. É essa a ideia do laicismo.
Há outros exemplos de desrespeito à liberdade religiosa no Brasil?
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso proibiu a prática de culto religioso nas dependências de um campus em Cuiabá. Em 10 de abril de 2023, uma portaria do governo proibiu o contato de missões religiosas com tribos Ianomâmi. Ainda em 2022, no fim do ano, o Ministério Público Federal proibiu a distribuição de material religioso e devocional para policiais da Polícia Rodoviária Federal e dos órgãos do Sistema de Segurança Pública. Em meio a pesquisas gigantescas sobre o nível alarmante de suicídios entre agentes de segurança pública por estresse absoluto, foi feita uma ação para entregar Bíblias para esse pessoal, mas o Ministério Público barrou. Por isso, a liberdade religiosa também é um termômetro. Quanto mais liberdade religiosa, mais limitado é um governo com sanha autoritária. Quanto mais as pessoas tomam consciência da liberdade religiosa — e essa liberdade, como qualquer outra, só funciona quando é exercitada —, só assim conseguimos conter o autoritarismo.
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