‘Paraíso do contrabando’: Como as tarifas de Trump podem criar o maior mercado negro do mundo

Publicado em 21/04/2025 · Categoria: Negócios

📰 Nota: Este conteúdo foi republicado automaticamente de exame.com. Confira o original em: clique aqui.


A nova leva de tarifas comerciais dos Estados Unidos contra a China pode estar pavimentando o caminho para o surgimento do “maior mercado negro de bens já visto no mundo”. A avaliação é da consultoria Gavekal, que vê nas medidas anunciadas por Donald Trump um incentivo aberto à evasão tarifária em larga escala — e com potencial global.

Além da escalada das tarifas de mais de 140% contra a China, Trump também anunciou o fim, a partir de maio, da isenção de minimis — que hoje permite a entrada de pacotes de até US$ 800 sem cobrança — para produtos vindos chineses, de Hong Kong e de Macau.

Na prática, qualquer encomenda dessas regiões, mesmo de pequeno valor, será taxada em US$ 100 por pacote a partir de maio, valor que dobrará em junho. Bens de outros países seguem sendo taxados em apenas 10%, com exceção de México e Canadá, que mantêm isenção desde que os produtos contenham ao menos 70% de conteúdo norte-americano.

Essa assimetria tarifária abre um arsenal de brechas para driblar as tarifas.

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“Se um agente inescrupuloso quiser importar bens chineses, colar um selo de ‘made in North America’ e enviá-los aos EUA, a menos que o embarque seja inspecionado e interceptado, não há tarifas a pagar”, diz o relatório.

A prática de declarar um valor menor do que o real para pagar menos imposto já é generalizada — e deve se tornar ainda mais comum. Esse tipo de subavaliação já é bastante expressivo: as importações reportadas pelos Estados Unidos da China são mais de US$ 100 bilhões menores do que as exportações reportadas pela China aos Estados Unidos, um gap que só aumentou depois da imposição das tarifas.

Ainda que haja outros fatores técnicos que possam explicar essa discrepância nos dados de comércio bilateral,  um estudo do Federal Reserve de 2021 estimou que a subvalorização de produtos nos portos americanos respondeu por US$ 55 bilhões do descompasso entre as exportações da China para os EUA e os dados de importação americanos. “Esse número pode facilmente duplicar ou triplicar com a nova imposição de tarifas”, alerta a Gavekal.

O problema, apontam os analistas, é que a capacidade de fiscalização dos EUA é limitada. A alfândega tem apenas cerca de 3 mil agentes nos portos — o que significa, em média, uma capacidade de olhar 50 contêineres por dia por oficial em todo o país. Dos cerca de 30 mil funcionários da Alfândega americana, apenas 40% trabalham em aeroportos — ou seja, algo como 12 mil pessoas.

Esses profissionais dividem-se entre controle de passaportes, triagem de passageiros e checagem de cargas.

Em 2023, 1,25 bilhão de pacotes chegaram aos EUA sob a isenção de minimis. A estrutura atual não permite inspecionar mais do que uma fração mínima desse volume.

“É essa incapacidade operacional que explica, por exemplo, a dificuldade dos EUA em interceptar precursores de fentanil enviados por correio”, diz o relatório.

Embora grandes empresas sigam sujeitas às regras e preocupadas com reputação, a Gavekal acredita que as pequenas e médias empresas devem liderar o movimento de evasão tarifária.

Com margens apertadas e sem estrutura para redesenhar cadeias produtivas, essas empresas têm mais incentivo e menos escrutínio.

“Para muitas PMEs, a escolha será simples: ou burlam o sistema, ou saem do mercado”, diz a consultoria. Mecanismos como embarques cruzados, subnotificação de valor ou uso de terceiros países devem se tornar práticas comuns.

O efeito prático será um redesenho do comércio global. Nos próximos meses, os números vão mostrar uma queda nas importações diretas dos Estados Unidos pela China, mas o que parecerá ‘desacoplamento’ será, na verdade, triangulação: produtos com origem chinesa camuflados por rotas indiretas e valor agregado mínimo fora da China.

“Os EUA podem até comemorar a redução do comércio com a China”, conclui a Gavekal. “Mas será uma vitória superficial. Os consumidores americanos seguirão comprando produtos chineses — só que pagando mais caro por eles.”

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