Por que crianças mentem? Como reagir à mentira do seu filho pequeno

Publicado em 19/04/2025 · Categoria: Educação

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As mentiras na infância fazem parte do desenvolvimento cognitivo, emocional e social. Quando as crianças são pequenas, elas não devem ser percebidas como um sinal de malícia ou desonestidade. Cientistas dizem que crianças aprendem a mentir para não ter que enfrentar as consequências de suas ações
Getty Images via BBC
Pablo ganhou de presente de aniversário o uniforme do seu time de futebol favorito. No dia seguinte, ele estava animado para estrear a roupa nova. Quando seus pais o viram vestido da cabeça aos pés, notaram algo estranho.
Ao se aproximar, descobriram que ele havia escrito as iniciais do time no short para personalizá-lo. Com uma expressão de insatisfação óbvia, eles perguntaram por que ele havia feito isso. Sem hesitar, Pablo respondeu com naturalidade: “Não fui eu! Veio assim”.
As crianças pequenas geralmente contam mentiras que são fáceis de serem detectadas pelos adultos.
Uma criança de três ou quatro anos pode negar ser a autora de um desenho na parede, mesmo sendo a única pessoa na sala; ou é capaz de insistir que não comeu chocolate quando sua boca está toda suja de cacau.
Estas situações são desconcertantes para os adultos, mas há uma explicação baseada no desenvolvimento cognitivo e socioemocional das crianças.
Por que as crianças mentem?
Mentir é uma estratégia que as crianças usam para lidar com situações de que não gostam. Um dos motivos mais comuns é evitar as consequências negativas de suas ações.
Quando percebem uma expressão de aborrecimento nos pais ou aprendem que uma ação semelhante resultou em reprimenda, elas tentam evitar essas consequências negando o que aconteceu.
Por que crianças mentem? Como reagir à mentira do seu filho pequeno
Freepik
Não dizer a verdade também contribui para manter uma imagem positiva diante dos outros, evitando assim decepcionar os adultos.
Mentir ajuda as crianças a evitar problemas. Mas será que elas não percebem que é óbvio que não estão dizendo a verdade?
Quando são pequenas, elas ainda não desenvolveram certas habilidades cognitivas que são características de estágios posteriores de desenvolvimento. Por exemplo, não conseguem antecipar as consequências de suas ações e, portanto, não são capazes de prever que uma mentira pode ser descoberta.
Tampouco adquiriram a capacidade de entender que os pensamentos e emoções dos outros podem ser diferentes dos seus.
Elas acreditam que os outros vão pensar como elas e, assim, vão acreditar na sua versão da história.
Como elas aprendem a mentir?
A observação desempenha um papel fundamental no aprendizado do comportamento de mentir. As crianças observam com frequência os adultos contando pequenas mentiras na vida cotidiana.
Frases como: “não diga ao papai que você comeu biscoito” ou “vamos estar viajando”, como desculpa para não aceitar o convite para um jantar, transmitem a ideia de que pequenas mentiras são aceitáveis.
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Em suas primeiras experiências diante deste tipo de situação, as crianças geralmente reagem de forma ingênua.
Não é incomum que contradigam subitamente os adultos, contando ao pai como o biscoito estava delicioso ou informando ao vizinho que a suposta viagem nunca aconteceu.
Com o tempo, e após várias situações semelhantes, a criança internaliza que, em certos casos, mentir é aceitável. Isso geralmente acontece quando os pais minimizam a importância dessas pequenas mentiras, às quais eles próprios recorrem às vezes.
À medida que crescem, as crianças aprendem que as mentiras podem ser descobertas, e mudam a maneira de mentir.
Se suas mentiras são facilmente detectadas, elas aprendem que mentir é uma estratégia que não funciona, e que gera desconfiança por parte dos outros.
Se conseguem enganar, aperfeiçoam a técnica, e suas mentiras se tornam mais elaboradas e difíceis de serem detectadas.
O que fazer diante da mentira de uma criança
As mentiras fazem parte do desenvolvimento infantil, mas devem ser gerenciadas adequadamente para promover a honestidade, e evitar que sejam usadas para manipular os outros.
Por isso, é importante ser um modelo de sinceridade, evitando mentir na frente das crianças, mesmo que sejam pequenas mentiras cotidianas.
Desta forma, a criança vai entender que dizer a verdade é um valor importante, e não vai conseguir justificar suas próprias mentiras dizendo: “Você também mente”. É preferível reforçar a importância de dizer a verdade e destacar os benefícios de ser sincero com os demais.
Outra sugestão é evitar consequências desproporcionais para um comportamento inadequado.
Se a criança receber uma punição excessiva por dizer a verdade, ela vai aprender que mentir evita reprimenda. Em vez disso, é melhor interpretar o comportamento inadequado como uma oportunidade de aprendizado.
Não devemos presumir de imediato que a criança fez algo errado — mas, sim, dar a ela a oportunidade de se explicar, sem julgá-la previamente.
Permitir que elas se expressem livremente reduz a necessidade de se defender com mentiras, e promove um ambiente de confiança.
Uma parte normal do desenvolvimento
As mentiras na infância fazem parte do desenvolvimento cognitivo, emocional e social. Em crianças pequenas, elas não devem ser vistas como sinais de malícia ou desonestidade.
Por meio de suas primeiras experiências com a mentira, as crianças aprendem sobre as consequências de suas ações.
Se os adultos entenderem por que as crianças mentem, e lidarem com as mentiras de forma adequada, vão poder orientá-las a estabelecer uma comunicação honesta baseada na sinceridade.
Com paciência, boa comunicação e exemplos positivos, as crianças vão aprender que a verdade é sempre a melhor opção. Elas não vão ter medo de cometer erros, e vão fortalecer, assim, sua confiança nos adultos.
*Mireia Orgilés é professora universitária, especialista em tratamento psicológico infantil, da Universidade Miguel Hernández, na Espanha.
José Pedro Espada é professor de psicologia e diretor do Centro de Pesquisa da Infância da Universidade Miguel Hernández.
**Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em espanhol).
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